Constipações, gripes, tosse e dores de garganta. No inverno, os vírus e as bactérias circulam com mais facilidade entre a população e as doenças respiratórias são mais comuns. É, por isso, nesta altura do ano que se atinge o pico de mezinhas e remédios caseiros partilhados nas redes sociais.

Por exemplo, numa publicação no Instagram cujo autor diz acreditar na “força dos produtos naturais para melhorar a saúde”, alega-se que a maçã com mel alivia as dores de garganta.

No post recomenda-se que se fatie uma maçã em rodelas finas, cobrindo-as, depois, com mel. O mesmo autor defende que o preparado deve ser consumido após repousar por cinco minutos.

Numa outra publicação, a maçã é apontada como uma ajuda para as dores de garganta por criar um “ambiente inóspito para os germes”. Para o autor, esta mezinha é uma opção “eficaz e natural” que deve ser considerada antes da toma de um medicamento. Mas está provado que a maçã com mel ajuda a aliviar as dores de garganta?

Maçã com mel alivia dores de garganta?

Em declarações ao Viral, o otorrinolaringologista Tiago Porfírio Costa adianta que “não há estudos de qualidade” que confirmem que comer maçã com mel alivia as dores de garganta.

O médico começa por explicar que a “terminologia correta” para as dores de garganta são “faringites” e sublinha que estas doenças são, na maioria das vezes, virais.

Além disso, sublinha, trata-se de um processo “autolimitado” que, apesar de ser variável, por norma, passa em uma ou duas semanas.

O médico adianta desconhecer estudos sobre esta mezinha que tenham “qualidade científica robusta”, ou seja, em que haja grau de comparação e que “respondam a uma série de premissas que diminuam o enviesamento de resultados”.

Apesar de reconhecer que o mel tem “características terapêuticas” com “inúmeros” benefícios e que é já utilizado em “alguns tratamentos”, Tiago Porfírio Costa diz que “não há evidência” quanto a benefícios em casos de faringite.

O otorrinolaringologista salienta que consumir mel “para as dores de garganta”, na prática, tem um “risco relativamente baixo” para a saúde.

No entanto, alerta para possíveis alergias ao mel e refere casos de botulismo infantil.

“O mel é uma das substâncias que se aguenta mais tempo – meses ou anos – e tem um ph tão ácido e um grau de açúcar tão grande que dificulta o crescimento de microrganismos. No entanto, o mel estragado, contaminado, pode provocar infeções graves, sobretudo em bebés com menos de 1 ano”, explica.

Quanto à maçã, o especialista refere que esta é uma fruta com “propriedades benéficas”. No entanto, diz haver “ainda menos” evidência científica do que em relação ao mel no que diz respeito ao tratamento das faringites.

Mas o que são faringites? E como se tratam?

O termo correto para designar as “dores de garganta” é, segundo o médico consultado pelo Viral, “faringites”.

Quando há uma faringite, a garganta fica vermelha, inchada e há dor, sobretudo ao engolir, explica o HealthDirect Australia, serviço nacional australiano de informações sobre saúde pública. A garganta pode também apresentar pus e haver febre, dores de cabeça, náuseas e vómitos.

Uma publicação de Wolford, Goyal, Syed e Schaefer, de 2023, sobre faringites também refere que a causa “mais frequente” são os vírus e que os doentes recuperam entre “7 a 10 dias”.

De acordo com o site dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos da América (CDC, na sigla inglesa), as faringites podem também ser causadas por bactérias – Streptococcus pyogenes -, ainda que sejam menos frequentes do que as virais. 

A lavagem das mãos e uma “boa higiene pessoal” são importantes para evitar a propagação do vírus, refere a publicação de Wolford, Goyal, Syed e Schaefer.

Ao Viral, Tiago Porfírio Costa explica que as terapêuticas são medicamentos que aliviam os sintomas, como paracetamol ou ibuprofeno. Noutro plano, a publicação de Wolford, Goyal, Syed e Schaefer considera que os antibióticos são “utilizados” em excesso para o tratamento da faringite.